Pura Trapaça
Publicado por blogcidadedorio em 13/05/12 | Site
Por Silvana Vargas,
Lembro de uma canção da década de 80 que falava de um adolescente que sentia-se incomodado porque os pais o tratavam muito bem e por isso ele não podia se rebelar. A tal música fez sucesso e saiu das paradas depois de algum tempo Lembro melhor ainda do dia em que minha filha adolescente saiu do banho e nos indagou como poderia se rebelar se sua vida era tão boa. Eu não poderia imaginar que aquela reflexão era o aviso dos tempos difíceis que haveria de enfrentar dali pra frente.
Lembro que,ao longo da minha maternidade precoce, deixei de fazer coisas prazerosas para mim no intuito de cumprir bem meu papel de mãe. Houve uma ocasião, em que voltava do trabalho e um grupo de amigas se reuniam num barzinho perto de minha casa ,quando
me viram apressada,convidaram para sentar com elas. Naquela hora eu pesei o que seria,dentro dos meus valores, mais importante. E segui em frente para encontrar com meus filhos que chegariam no ônibus escolar dentro de instantes.
Lembro da minha infância, das atenções maternas que não recebi, das carências que marcaram a meninice de uma filha única num bairro de classe média. As repressões que tive que administrar foram bem marcantes. Até a altura da saia era vigiada numa época em que a mini -saia já estava consagrada.
É por essas e outras que fico me perguntando quem moldou nossos filhos com esta praticidade de tão violados princípios.
Nesse ambiente onde só se valorizam o Ter em detrimento do Ser,a noção de um porvir onde todos serão julgados pelos seus feitos já não sensibiliza esses jovens adultos.
Hoje só aceitam e fingem nos reverenciar quando a mídia os incentiva.
Lembro que é Dia Disso, Dia Daquilo,toda uma fachada de homenagem embrulhada para presente. Naturalmente comprada a peso de ouro no Shopping do momento.
Não é mais nosso esforço e nossa referência que os move.Para eles somos verdadeiros intrusos em suas vidas.Há, como estão ingratos os filhos de agora!
Tenho lido e visto muito os revoltosos que andam pelo mundo. A praça Tahir não me sai da mente. E acho que demonstraremos nossa indignação enquanto pais numa manifestação como a que vimos nela. Lá uma manifestação pelos direitos de cidadania. Já aqui, contra a perda da responsabilidade pessoal de nossos filhos.
Afinal,não se fazem famílias amorosas e presentes só com avós e netos.