Caminho de Santiago de Compostela por dois Cariocas: Borres – Berducedo
Publicado por cidadedorio em 09/05/15 | Viagens
Por Amanda e Fred Nogueira,
Pensei que fosse passar uma noite difícil em Borres, pois estava bem frio e o albergue bem no campo, em uma cidadezinha rural, era bem úmido. Dormimos bem, o calor humano do albergue lotado funcionou melhor que uma calefação.
Hoje, pela manhã, nos despedimos de nosso amigo Joan, que foi para Oviedo, pegar o avião para voltar a sua cidade de Reus e reencontrar sua amada. Sabia que sentiria a falta dele, pois sempre caminhava ao meu lado nas trilhas, me dando forças e me fazendo rir com suas brincadeiras: “Otro llano” (outro plano), dizia ele debochado, por encontrarmos outra ladeira para começarmos a subir. Eu adorava, achava muito engraçado.
Enfim, todos acordaram por volta das 6:30h hoje, porque sabíamos que a caminhada seria bem difícil! Quase todos queriam ir pela Rota dos Hospitais, um Caminho bem puxado, com distância de 27km até a cidade de Berducedo, onde teria um albergue.
Já sabíamos que durante todo este percurso, não encontraríamos água e nem comida, pois a rota é pelas montanhas, com subidas muito íngremes de pedras e nenhuma cidade a vista. Para os que se aventuram a fazer este percurso, tem que saber que não há como desistir em nenhum momento, pois não tem cidades e nem estradas, pelo menos até 17km de caminhada, quando se encontra a estrada pela primeira vez, mas quase não passa carro.
Antes de começar a subir a trilha, passamos no bar, El Barín, o único na cidade de Borres e de lá começamos nossa aventura. E que aventura!
Logo de início já começamos a subir bastante, uma ladeira muito íngreme com pedras. O dia nublado, assustou alguns peregrinos que preferiram seguir por outra rota, por Pola de Allande. Os que seguiram pela Rota dos Hospitais, foram 8: eu, Fred, Vicente, Luiza, um casal de alemãs e um casal de espanhóis. Amigos que fizemos em Tineo. Todos no mesmo passo, durante longo tempo seguimos juntos.
Começou a esfriar mais ainda e uma chuvinha fina e ventos ainda mais fortes nos alcançaram. Alguns pararam logo para colocar as capas nas mochilas e seus ponchos. Por um momento, fiquei em dúvida se tínhamos feito a coisa certa. Quando de repente, me deparei com um lindo arco-iris no vale ao meu lado. A ventania, às vezes parecia que ia me derrubar de tão forte. Aos poucos passei um por um dos peregrinos, que perguntavam sobre meus joelhos e eu só dizia: obrigada, foco e meta, não posso parar.
Durante muitos quilômetros liderei a caminhada. Nos momentos difíceis, pensava em meus familiares, no Joan dizendo que eu era valente por escolher fazer a rota dos hospitais mesmo naquelas condições e também na plaquinha que Luiza carrega em seu bastão de caminhada, escrito Believe. Muitos pensamentos positivos me ocorreram: sou forte e vou conseguir.
Ao nosso lado, durante quase todo o percurso somente abismos e seguíamos subindo eternamente, parecia que estávamos indo para o céu. Nas dificuldades, pensava em Jesus carregando sua cruz para o calvário.
Eis que chegamos em um descida muito íngreme, com pedras soltas. Foi muito difícil, chorei. Fred, como sempre, meu porto seguro, me ofereceu seu ombro para que eu pudesse passar logo por aquele obstáculo. Um senhor chamado José Pedro, passou e nos deu chocolate, o que melhorou muito e por incrível que pareça tornou o restante da descida mais fácil. Pensei em São José neste momento, como um pai, amigo e protetor.
Faltavam 4 km até a cidade de Lago. Quando chegamos, encontramos nossos amigos que haviam nos passado, confraternizando em um bar. Paramos, comemos e descansamos um pouco. Ainda restava cerca de 5km até Berducedo. A partir daí, o restante do trajeto foi plano, onde passamos por uma linda floresta com pinheiros. E finalmente, chegamos em um albergue municipal.
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