Cidade do Rio - De braços abertos como o Rio de Janeiro

5X Pacificação estreia nesta sexta-feira

Publicado por SiteCidadedoRio em 15/11/12 | Site

Depois de quase quatro décadas subjugado pela força e violência do tráfico de drogas baseado nas favelas, o Rio de Janeiro vive uma nova experiência de segurança pública. Implantadas em algumas comunidades da cidade, as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) chegam para retomar o espaço ocupado por bandidos com armas de guerra.

Para contar essa história de um modo diferente do que se vê nos noticiários, os produtores Cacá Diegues e Renata de Almeida Magalhães abraçaram o projeto de quatro diretores de “5x Favela – agora por nós mesmos”, para que as UPPs fossem examinadas de dentro, do ponto de vista dos que moram nas favelas. Cada cineasta ficou à frente de um episódio e o resultado poderá ser visto nos cinemas, a partir de 16 de novembro.
“Morro”, dirigido por Cadu Barcellos, revela a reação dos moradores de comunidades que já possuem UPPs, em confronto com os que moram em comunidades ainda não atendidas por elas. O que, para eles, existe de positivo, de esperança e de temor em relação ao projeto das UPPs.

“Polícia”, de Rodrigo Felha, investiga a preparação dos novos policiais destinados a atuar nas UPPs, como eles e os moradores de comunidades pacificadas entendem seu papel no projeto.

Luciano Vidigal dirige “Bandidos”, episódio em que ex-traficantes contam suas histórias e a tentativa de reintegração à sociedade. Muitos desses ex-bandidos são beneficiados por um programa de empregabilidade, realizado pela sociedade civil.

Coube a Wagner Novais, diretor de “Asfalto”, mostrar o que pensam sobre as UPPs os vizinhos das comunidades pacificadas ou não. Cabe a eles julgar as consequências, para o resto da cidade, da implantação das UPPs.

O quinto episódio estava fora do roteiro original: com a ocupação do Complexo do Alemão e da Rocinha, em pleno processo de produção do filme, os diretores perceberam a importância desses dois eventos e decidiram finalizar “5x Pacificação” com uma avaliação deles. Em todos os episódios e, sobretudo neste último, “Complexo”, o filme faz questão de não iludir o público com a expectativa de um “milagre”. A nova política de segurança pública, representada pelas UPPs, é apenas um bem-vindo primeiro passo do estado na incorporação das favelas cariocas à cidade, no processo de dar a elas um estatuto de plena cidadania.

Para Renata de Almeida Magalhães, o grande desafio do filme é o mesmo de “5x Favela”: falar sobre um assunto que todo mundo conhece sob o ponto de vista de quem é diretamente impactado pelo tema: “À TV, interessa mostrar os bandidos e os tiroteios. A nós, o que a pacificação realmente significa para quem a vivencia”.

Cacá Diegues conta que o filme foi feito em três etapas. “Cada vez que a gente terminava, acontecia algo novo. Começamos a filmar antes da ocupação do Complexo do Alemão. Quando ela aconteceu, percebemos que precisávamos contar aquela história. Daí, os quatro episódios se transformaram em cinco. Quando a Rocinha foi ocupada, aconteceu a mesma coisa e acabamos filmando lá também”, conta o cineasta.

Com a experiência de mais de 50 anos filmando em comunidades no Rio, Cacá Diegues vivenciou de perto a escalada do tráfico na cidade: “No ‘5x Favela’ original, de 1962, eu e a equipe de meu episódio moramos, durante a produção, no morro do Cabuçu, em Lins de Vasconcelos (subúrbio do Rio), onde ainda não havia sombra de tráfico de drogas. Meu primeiro embate com traficantes se deu quando fazia ‘Um trem para as estrelas’ (1987), em que tive de mostrar o roteiro para o traficante que controlava a favela. A partir dos anos 90, preferi filmar em favelas sem tráfico, como Tavares Bastos, Anil e outras. Mas, no ‘5x Favela – Agora por nós mesmos’, filmamos no Vidigal, cercados por traficantes armados. Dá pra imaginar como isso é chato, né?”.

Cacá e Renata entendem que o projeto das UPPs, enquanto primeiro passo em direção a uma emancipação das favelas, deve ser abraçado pela população como um todo. “Assim, diz ele, poderemos criticar o que está errado, o que ainda não foi feito e o que esperamos de fato dessa política”. Ao que Renata acrescenta: “Eu chamaria esse filme de ‘A UPP é nossa’. Ela é de todo mundo e, se não for percebida dessa maneira, corremos o risco de torná-la ineficiente e tudo voltar a ser como era”.

Para que melhor se entenda o pensamento deles, Cacá finaliza:

“A favela não é o problema da cidade, a cidade é que é o problema da favela”.